segunda-feira, dezembro 01, 2008

Diagnóstico que começa pela boca

Fluidos orais podem sugerir quadros depressivos, diabete, anemia, cirrose, artrite e doenças auto-imunes

Muita ou pouca saliva? Ela está ralinha ou espessa? Responder a essas perguntas é uma forma de cuidar da saúde bucal e do corpo todo. Os fluidos orais, embora menosprezados por grande parte dos dentistas, podem sugerir quadros depressivos, diabete, anemia, cirrose, artrite e doenças auto-imunes. Apesar disso, apenas 7% dos profissionais consultados pela Sociedade Brasileira de Periodontologia (Sobrape) avaliam a saliva de seus pacientes. Esta é a conclusão de um estudo apresentado durante o 8º European Symposium on Saliva, na Holanda, pela periodontista Denise Falcão, mestre em ciências da saúde e pesquisadora da Universidade de Brasília. ''O teste de saliva é simples, leva uns 15 minutos. O problema é que vários dentistas não sabem aplicá-lo. Basta ter um medidor digital de PH, uma pipeta graduada, um timer e um espessímetro. Não é equipamento caro.'' Na opinião de Denise, a falta de informação entre os dentistas começa na sala de aula. ''Constatamos que 69% dos profissionais consultados nem sequer tiveram aula sobre saliva na faculdade. Mesmo assim, 73% deles disseram considerar a saliva importante para avaliar a saúde do paciente'', detalha Denise. Participaram do estudo da Sobrape 58 profissionais, recrutados em várias regiões do País. ''É preciso conscientizá-los de que a saliva é a primeira linha de defesa da boca, quando há alterações no fluxo a pessoa fica mais vulnerável a bactérias, infecções oportunistas e câncer bucal'', completa. A dentista explica que o volume de saliva pode fornecer pistas importantes sobre patologias, mas enfatiza a necessidade de exames complementares para um diagnóstico preciso. Este é o caso da síndrome de Sjögren, que tem caráter auto-imune e acomete sobretudo mulheres. ''Trata-se de uma destruição das glândulas lacrimais e salivares que podemos detectar pela escassez de saliva e lágrimas. Tenho vários casos nos quais o diagnóstico partiu de uma suspeita levantada pela saliva. A atuação conjunta entre dentista, reumatologista e oftalmologista é fundamental para um diagnóstico precoce, que nos possibilite melhorar a qualidade de vida das pessoas'', explica. Nos casos de alteração salivar, exames de sangue e as análises clínicas são boas alternativas para investigar suspeitas. ''Algumas vezes a falta de saliva não indica doença. Se há baixo consumo de alimentos fibrosos e pouca ingestão de água pode ocorrer uma atrofia das glândulas salivares. Na medida em que a população começa a consumir alimentos mais pastosos começam a existir alterações nas glândulas salivares'', esclarece. Consultora de estomatologia da Associação Brasileira de Odontologia (ABO) e doutora em odontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Maria Carméli Sampaio garante que o fluxo de saliva pode interferir até mesmo nos processos digestivos. ''Uma quantidade adequada de saliva é essencial para que se tenha um bom processo digestivo e uma absorção adequada de nutrientes. Algumas vezes o paciente apresenta prisão de ventre e nem imagina que a origem desse problema pode estar na boca. Até mesmo o estresse exerce impacto sobre a saliva, diminuindo o seu volume'', explica. Maria Carméli diz que a saliva tem sido muito estudada pelos dentistas mas pouco usada como instrumento investigativo. ''Um procedimento importante que o dentista poderia fazer por meio da saliva é avaliar o índice de cárie, mas quase ninguém se preocupa com isso. Após concluído o tratamento dentário o ideal é que o paciente aguarde um mês e retorne ao dentista para fazer um teste e saber se está livre daquela bactéria ou se ainda há resquícios na cavidade bucal. Uma saliva mais grossa pode indicar, por exemplo, reação de leveduras, como é o caso da cândida, conhecida como sapinho. Não é à toa que na tradicional medicina chinesa o diagnóstico é dado após análise da língua e da saliva.''
Equipe AE

Fonte: Jornal Folha de Londrina - Pr (01/12/2008)

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